Efeito Placebo na Medicina Alopática e Homeopática – Opinião
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Folha de São Paulo
opinião: Marcus Zulian Teixeira: O efeito placebo na medicina
alopática e homeopática 11/06/2015 Opinião Folha de S.Paulo
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OPINIÃO
Marcus Zulian Teixeira: O efeito placebo na medicina alopática e
homeopática
11/06/2015 02h00
Na matéria A cura pela expectativa: o efeito placebo e a
pseudomedicina (Ilustríssima, 17/05/15), Hélio Schwartsman utilizou
conhecimento irrisório sobre o “efeito placebo” para criticar a homeopatia e a
acupuntura, especialidades médicas reconhecidas pela Associação Médica
Brasileira, ensinadas nas faculdades de medicina, disponibilizadas no SUS e com
dezenas de milhares de médicos praticantes no Brasil.
Por ter estudado este tema na minha tese de doutorado
(continuando o estudo no meu pós-doutorado), gostaria de esclarecer alguns
pontos enviesados de sua análise e sugerir leitura científica imparcial sobre o
assunto.
No texto, ele relaciona os “efeitos específicos” destas
terapêuticas, exclusivamente, aos “efeitos não específicos” da sugestão (efeito
placebo), desprezando os inúmeros estudos científicos favoráveis a estes
métodos de tratamento e valorizando, apenas, os estudos desfavoráveis, muitos deles
enviesados (como é o caso da metanálise contrária à homeopatia publicada no The
Lancet em 2005).
Em seu discurso pseudocientífico e contraditório, critica de
forma explícita e parcial apenas a homeopatia e a acupuntura, apesar de
concluir que o efeito placebo ocorre igualmente com os tratamentos
convencionais, pois os “laboratórios conseguem produzir estudos que pintam um
quadro muito mais favorável a suas drogas do que deveriam”, evidenciando o
enorme conflito de interesses que existe na pesquisa científica da “verdadeira”
medicina.
Aos interessados nas “evidências científicas” que respaldam o
modelo homeopático (princípio da similitude e uso de doses ultradiluídas),
assim como as limitações no emprego desta terapêutica, sugiro acessarem o site
http://www.homeozulian.med.br.
Em editorial posterior (Os ricos também choram, 20/05/15),
buscando justificar a comprovada eficácia da homeopatia e da acupuntura em
animais e bebês (não sujeitos ao efeito placebo), afirma que ela ocorre porque
“a maioria dos pacientes (ou seus tutores) tende a procurar tratamento quando o
processo patogênico está no auge ou próximo dele” e que “a menos que a moléstia
seja fatal e a maioria não o é o mais provável estatisticamente é que os
sintomas regridam”.
Nessa colocação, o “filósofo” demonstra total desconhecimento em
“medicina” e na evolução natural da maioria das doenças crônicas não fatais
(totalidade das enfermidades modernas e principal campo de ação da homeopatia e
da acupuntura), as quais só tendem a piorar o seu curso e os seus sintomas com
o passar dos anos, além de terem seu estado agravado pelos eventos adversos das
drogas convencionais em uso contínuo e prolongado.
Como os leitores poderão constatar em literatura científica, o
“efeito placebo” é observado em qualquer terapêutica, com seus mecanismos
psiconeurofisiológicos estudados e descritos. Em todo tratamento, os efeitos
terapêuticos relacionam-se a dois tipos de fatores: ‘específicos’ (dose,
duração, via de administração, farmacodinâmica, farmacocinética, etc.) e ‘não
específicos’ (evolução da doença, aspectos socioambientais, variabilidade inter
e intraindividual, expectativa de melhora no tratamento, relação
médico-paciente, características da intervenção, etc.).
O fenômeno placebo faz parte destes últimos, estando na
“expectativa consciente” por melhoras o principal mecanismo indutor, que pode
ser incrementado pelo “condicionamento inconsciente”, adquirido em experiências
pregressas positivas, e pela “relação médico-paciente”.
Com a introdução dos ensaios clínicos placebos-controlados,
padrão-ouro para avaliar a eficácia das terapêuticas, relatos frequentes de
melhoras clínicas significativas nos grupos controle demonstram que a
intervenção placebo pode causar efeitos consideráveis em inúmeras doenças.
Revisões sistemáticas de ensaios clínicos placebos-controlados
com tratamentos “convencionais” evidenciam esta resposta placebo (% de
melhora): doença de Crohn (19%), síndrome da fadiga crônica (20%), síndrome do
intestino irritável (40%), colite ulcerativa (27%), depressão maior (30%),
mania (31%), enxaqueca (21%), dentre outras.
De forma análoga, revisões sistemáticas de ensaios clínicos
placebos-controlados que compararam a magnitude do efeito placebo entre os
tratamentos convencional e homeopático, nas mesmas doenças, constataram efeitos
semelhantes em ambas terapêuticas (20-30% de melhora). Assim como nos
tratamentos convencionais, essa pequena melhora inicial não explica a eficácia
da homeopatia e da acupuntura nas doenças crônicas renitentes, comumente
observada em pacientes que as buscam como alternativas após décadas de
insucesso com as terapêuticas convencionais.
Concluindo, o efeito placebo é observado em qualquer intervenção
terapêutica, em vista da importante natureza psicogênica da maioria das
doenças, não podendo ser utilizado, exclusivamente, de forma pejorativa na
crítica aos tratamentos “não convencionais”.
Como descrevemos no título do artigo anteriomente citado, o
fenômeno placebo é uma “evidência científica que valoriza a humanização da
relação médico-paciente”, aspecto que deveria ser resgatado pela medicina
cientificista moderna.
MARCUS ZULIAN TEIXEIRA, 57, médico e pesquisador homeopata,
pós-doutorando da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
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