16.nov.2012 | Atualizada em 19.nov.2012 por Carolina Romanini
No sobrado espaçoso da Alameda Campinas, nos Jardins, onde o dentista Gil Puglisi atende há 35 anos, o cenário continua o mesmo de sempre: revistas com amenidades, máquina de café expresso e jardim de inverno com fonte de água corrente. A mudança, desde agosto, está no som ambiente: o silêncio tomou o lugar daquele ruído torturante que costuma espalhar tensão na sala de espera, graças a uma técnica para amenizar consideravelmente a dor durante as sessões. Trata-se de uma ferramenta especial, na qual o laser faz o papel da temida broca giratória.“Virou a minha opção atualmente em cerca de 80% dos procedimentos realizadospor aqui”, diz Puglisi.
Com o feixe de luz de alta potência, o aparelho proporciona cortes mais precisos e, assim, deixa de atingir nervos e outras áreas sensíveis sem necessidade. Pode ser usado, por exemplo, em tratamentosde canal, remoção de tártaro e em algumas cirurgias de gengiva. Devido ao investimento alto (cerca de 70.000 dólares), o equipamento continua restrito a poucos consultórios. Apesar de caro, ele é compensatório a longo prazo. “Com a rapidez da técnica, consigo atender três clientes no tempo em que receberia apenas um e repasso a vantagem a eles”, afirma Puglisi. Assim, a obturação feita por suas mãos passou a custar 700 reais, menos que os 1.000 reais cobrados pela técnica tradicional.
Diante da previsão de que a novidade logo ganhará espaço nos consultórios da capital, a Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas passou a ensinar o procedimento em aulas de especialização. “O aparelho reduz o sangramento, esteriliza a região e dispensa a sutura”, enumera Walter João Genovese, responsável pelo curso. A tecnologia, no entanto, não representa ainda a aposentadoria definitiva daquele barulhinho irritante. “Na maioria dos casos, precisamos, mesmo que por um breve momento, fazer a finalização com o bom e velho motorzinho”, explica Genovese.
Entre os consultórios que já compraram a ideia está o Ateliê Oral, clínica voltada para a odontologia estética, na qual o laser é usado de forma eventual. “Tratamentos focados no conforto e bem-estar dos pacientes têm sido a prioridade dos profissionais nos últimos anos”, diz o dentista Marcelo Kyrillos, dono da clínica. Ali, uma série de outras inovações tenta cumprir essa função. Em seus atendimentos, até a anestesia mudou: antes administrada com seringa, ela agora é aplicada em pequenas doses por um sistema de controle computadorizado, com agulha praticamente indolor, por ser fina e proporcionar menor pressão.
 O cirurgião Puglisi e o aparelho: o feixe luminoso dispensa a broca em quase todo o tratamento
O cirurgião Puglisi e o aparelho: o feixe luminoso dispensa a broca em quase todo o tratamento

(Foto:
Cida Souza
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Em paralelo à parafernália high-tech, outras armas têm sido usadas com o mesmo propósito de que a hora de cuidar dos dentes não seja um pesadelo. Exemplo disso são os consultórios que utilizam baixas doses de gás hilariante misturado a oxigênio, o que ajuda a diminuir a ansiedade dos pacientes e a relaxá-los. Remédios homeopáticos substituem hoje antibiótiantibióticose anti-inflamatórios, e profissionais empregam técnicas milenares nos atendimentos. Depois de reconhecer a prática da acupuntura odontológica, o que se deu em 2008, a associação da classe estuda atualmente considerá-la uma especialidade. As sessões, que em geral custam na faixa entre 80 e 200 reais, são feitas antes e depois de obturações e outros tratamentos. “O objetivo é amenizar a ansiedade do paciente, além de reduzir a inflamação e a dor”, diz o cirurgião Helio Sampaio Filho, consultor da associação.
Sampaio e sua cliente Janine: “Já chego relaxada à cadeira”, diz ela
Sampaio e sua cliente Janine: “Já chego relaxada à cadeira”, diz ela

(Foto: MARIO RODRIGUES)
A fotógrafa Janine Trassi, de 36 anos, apelou para essas picadinhas depois de um episódio no qual, em um tratamento tradicional, ficou tanto tempo de boca aberta que os músculos da face se paralisaram. “Com as agulhadas, eu chego relaxada à cadeira”, afirma. Já a cantora Aline Muniz, que faz ajustes no aparelho ortodôntico a cada duas semanas, adotou uma prática mais comum nos centros estéticos: a drenagem linfática. Nesse caso, a cabeça e o pescoço são massageados por um terapeuta, para reduziro inchaço e o efeito desconfortável da boca amortecida após a aplicação de uma anestesia. “Dá tão certo que, uma vez, saí da cadeira do dentista e fui direto me apresentar em um show”, conta ela, cliente do Ateliê Oral.

OUTRAS FORMAS DE TRATAMENTO
Acupuntura: Ajuda a controlar o stresse o nervosismo no atendimento, além de agir em pontos de dor e inflamação.
Gás hilariante: Usado em baixas doses e misturado ao oxigênio, reduz a ansiedade do paciente e lhe confere sensação de relaxamento.
Homeopatia: Evita a prescrição de medicamentos antibióticos e anti-inflamatórios e chega a substituir o uso de enxaguantes bucais.
Drenagem linfática facial: Atua nos gânglios linfáticos da face, reduzindo inchaço, edemas e dores.